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Inflação alta recupera o prestígio da renda fixa.

Captação líquida até julho superou em 515% o valor de 2020. 

A alta da inflação tem atingido em cheio não só o bolso do brasileiro, mas também o rumo de seus investimentos. A corrida que se viu nos últimos três anos – do pequeno investidor se expondo mais a risco de Bolsa em busca de rentabilidade acima do juro básico – se inverteu e a renda fixa vem roubando a cena novamente. Isso porque, além da alta da Selic, que mesmo assim continua em patamares historicamente baixos, a pressão inflacionária tem trazido incertezas em relação às oportunidades para quem busca ganho de capital. E é aí que a renda fixa, que vinha perdendo seu prumo, reaparece.
Até 29 de julho, a captação líquida nesse canal foi de R$ 153 bilhões, 515% a mais do que em igual período de 2020, enquanto os fundos multimercados ficaram com R$ 92,72 bilhões, variação positiva de 72,6%, e a renda variável, com R$ 4,78 bilhões, menos 91,4%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Foi um resultado da reprecificação dos juros futuros e dos prêmios pagos em títulos públicos e privados de longo prazo por conta do novo cenário. No último relatório Focus, do Banco Central (BC), as expectativas de mercado projetam Selic entre 7% e 7,5% neste ano e IPCA (principal índice de inflação) em 6,80%. Já para o ano que vem a projeção é de que esse indexador recue para 3,81%, enquanto a Selic persistiria em 7%.
A se confirmar o cenário, especialistas alertam para riscos e oportunidades que surgem não só para investidores conservadores, mas para quem quer proteger parte de seus recursos das instabilidades do mercado. “Do ponto de vista da diversificação, para quem suporta certo risco, é saudável ter exposição não só em renda fixa, mas também na variável e no exterior. Mas é sempre bom ter um colchão de liquidez”, observa Carolina Oliveira, analista de fundos da XP Investimentos.
Ela reforça que existem vários tipos de renda fixa. Além dos pós fixados atrelados à Selic, há também os atrelados a inflação. Mas alerta que se o investidor ficar só atrelado a Selic ou ao CDI correrá risco de ter rendimento aquém da reposição da inflação. “Não é só o risco de perder o dinheiro todo, mas também de deixar de ganhar.” Oliveira analista que a renda fixa pós-fixada começa a ficar atrativa, assim como os fundos referenciados, os de crédito privados, ou os que comprem ativos com remuneração pós-fixada (debêntures, CRAs, CRIs e FIDCs).
Mas o que o mercado registrou foi uma corrida na primeira metade do ano para as debêntures incentivadas, seja via fundo ou papel direto, por conta da proteção contra a inflação e a isenção de imposto de renda (IR).
“É preciso pontuar que outro papel protegido, as NTN-Bs 2026, que pagam IPCA + 3,91%, têm imposto na tabela regressiva de 22,5% até 15%. É um papel interessante porque paga pelo menos o juro real. Porém, se a inflação for 4%, tem perda porque o IR é sobre o ganho absoluto acima da inflação”, diz Pierre Jadoul, gestor de crédito privado da ARX Investimentos. Por isso, diz, as debêntures incentivadas aparecem como alternativa.
Já as NTN-Bs, apesar de sempre precificarem expectativas em relação à Selic e à inflação e embutirem prêmios nos prazos mais longos, são voláteis. “Conseguem taxas maiores, mas o investidor corre o risco de duration, porque a curva de juro ou de inflação pode mudar se o cenário deteriorar. E o investidor vai sofrer. Não é tão trivial”, observa Jadoul.
Para Artur Nehmi, gestor de renda fixa da Sparta Investimentos, para o investidor brasileiro mais conservador, o importante sempre foi ter retorno acima da inflação. Como trabalha com expectativa de inflação para 2022 na casa de 4% e Selic de 7%, o gestor vê nos títulos pós-fixados, como LFTs, CDBs e crédito privado, expectativa de retorno real mais significativa. “Historicamente, uma debênture pagava um ponto percentual acima da Selic. Hoje está pagando dois pontos acima. E não estamos vendo risco de crédito tão alto”, afirma Nehmi.
E, apesar da corrida do investidor para a renda fixa este ano, quase nenhum fundo desta categoria irá conseguir bater a inflação e entregar ganho real.
“Poucas operações sem risco vão conseguir superar o IPCA. Mesmo a NTN-B que é indexada, dependendo do cupom, não vai atingir o IPCA, considerando o IR. O melhor investimento é a debênture incentivada, que pagou acima da inflação. E não teve a perda da tributação sobre o investimento”, afirma Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital.

Fonte: Valor 

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